terça-feira, 16 de novembro de 2010

A Lei

- A partir de agora faz o que eu mandar!
- Oh homem, tenha calma... o que é que você quer?


Num fim de tarde como tantos outros, um autocarro fazia o seu trajecto normal até ao seu destino. Pessoas entravam e saíam, cansadas de mais um dia de trabalho e embrulhadas nos seus pensamentos e problemas. Ouviam-se as vozes cruzadas em conversas paralelas ou simplesmente destinas à pessoa do lado de lá do telemóvel... ouvia-se o barulho do trânsito e até o barulho ensurdessedor do silêncio de algumas pessoas que seguiam com a cabeça encostada ao vidro da camioneta, olhando simplesmente para o vazio.
Nesse momento, enquanto o autocarro percorria uma longa recta, alguém se levanta. Um Homem, de aparente espírito limpo, barba escura e pele branca vai na direcção do motorista.

Chegado lá, tira uma pistola do seu bolso e diz:
- A partir de agora faz o que eu mandar!
O motorista, perplexo com a situação, responde com voz trémula:
- Oh homem, tenha calma... o que é que você quer?
O Homem, mantendo a calma e a educação diz:
- Vai sair do percurso normal deste autocarro. No próximo cruzamento, vira à esquerda. Obedeça por favor, pois não lhe quero fazer mal...

O pânico instala-se!
Temendo pela sua segurança e dos passageiros e sem saber o que se estava a passar, o motorista fez o que o sujeito ordenou.
Mulheres que viajavam com seus filhos estavam pálidas, sem voz... apenas os abraçavam enquando lhes diziam que tudo ia ficar bem.

Perante esta situação, o Homem volta a dar mais indicações:
- Vai seguir este caminho até lá ao fundo, depois vira novamente à esquerda e depois à direita - enquanto terminava de falar com o motorista, ia-se encostando a um dos bancos enquanto se colocava de frente para as pessoas, prosseguindo - Hoje o dia não me correu muito bem... e com vocês? Está tudo bem?

Ditas estas palavras, nem o barulho do motor se ouvia... toda a gente ficou em silêncio, sem conseguir sequer processar um pensamento. Ninguém lhe respondeu...

- Que se passa com voces? Ninguem fala? O sentido humano das pessoas está cada vez mais corrumpido, não percebo... - desabafava o Homem.
- É para onde agora? - pergunta o incrédulo motorista.
O Homem respondeu:
- No fundo desta rua, junto aquela casa branca, páre. Eu fico ali...
Olhando novamente nos olhos dos passageiros o Homem continua:
- Vimos neste autocarro cerca de 40 pessoas, cada uma para seu lado ou simplesmente falando de coisa nenhuma. Isto preocupa-me! As pessoas estão a perder o sentido da vida... ninguém aqui se lembra que está vivo, que tudo isto é uma dádiva. Façam-me um favor, troquem essas tristes feições por olhares inspirados e sorrisos verdadeiros. Cantem, sorriam e abraçem. Esse é o verdadeiro sentido da vida...
Olhem o que uma simples pistola vos fez... já repararam? Agora pensem... estamos a deixar os dias e anos passarem sem sabermos o que realmente importa e a qualquer momento podemos deparar-nos com o fim. Basta chegar um Homem maluco com uma pistola no bolso que tudo pode ter o seu termo... e digam-me, o que fizeram até agora??

Entretanto, o autocarro chega ao seu destino, o motorista pára e sem saber muito bem o que fazer, abre a porta principal. Tendo-se apercebido da chegada ao ponto indicado, o Homem pára de falar, junta todas as suas coisas, guarda a arma e antes de sair, despede-se das pessoas, uma por uma, dizendo:
- Peço desculpa por este incómodo, nunca foi minha intenção assustar-vos. Um resto de bom dia para todos e aproveitem as pessoas que têm à vossa espera quando chegarem a casa. Não há nada mais importante do que isso...

Dito isto, o Homem sorri... sorri para todos, num gesto simples, livre e com efeito calmante. Sorri, sai do autocarro, coloca a sua mochila às costas e desaparece... no virar de uma esquina.

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Apontamentos

Do ser ao parecer
Da forma à reforma
Do estar ao ficar
Da falha à medalha
Do gostar ao amar
Da semente ao expoente
Do querer ao fazer
Da palma à alma
Do desejo ao gracejo
Da terra à guerra
Do ir ao partir
Da miséria à matéria
Do ganhar ao conquistar
Da relação à emoção
Do dever ao crescer


De tudo isto e mais uma imensidade...
Não vai uma grande distância...
mas uma forte personalidade.

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Pau!

A estabilidade mental atinge o seu ponto de excelência. A criatividade e inteligência estão no auge. O cérebro fala, os olhos riem e o espírito descansa... Enquanto as nossas vias respiratórias saboreiam o destrutivo poder do apaixonante, jogamos para o ar sentimentos que nem o vazio absorve. Não que não queira absorver, mas simplesmente não consegue. Não está ao alcance de qualquer um.
O mínimo detalhe assume a máxima importância para que a compreensão verbal e mental de cada um seja entendida de forma perfeita. A magnificência das palavras atinge por vezes níveis irreais. A conjução verbal é feita de forma inteligentemente aleatória... genial, diria eu!
Tudo é entendido pelos de dentro e visto com desconfiança pelos demais. Este ceio é incompreendido e passando despercebido, nunca é esquecido por aqueles que já tiveram a felicidade de contracenar com estas personagens da vida real.
Simples seres, complexas mentes, surrealistas pensamentos. É assim, desta forma, que me apresento a mim e aos meus. É assim, sem forma, que pretendo continuar a viver... para mais tarde poder começar a pensar.