quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

Armada de Pau

Como um barco destinado a carregar emoções e desejos para o outro lado do mundo. Construído para não afundar, mas sabendo que o fundo do mar é o fim. É catastrófico, aguniante e insane... porém, o bater da maré e o cheiro a liberdade fazem com que a audácia se manifeste de forma sublime.
São os tripulantes que dão o seu melhor e pesa embora a relevância de tal coragem, sem a força dos motores nem um rio atravessaria. Esses motores, que me fazem acordar e querer sair da cama... esses motores, que trabalhando no mínimo despertam a minha vida ao máximo.
Só peço uma coisa a esses monstros de ferro oleados: não trabalhem lentos demais pois pode-me faltar o ar... e por favor, não acelerem demasiado, porque eu posso não conseguir acompanhar.

A todos os motores, um obrigado!

terça-feira, 16 de novembro de 2010

A Lei

- A partir de agora faz o que eu mandar!
- Oh homem, tenha calma... o que é que você quer?


Num fim de tarde como tantos outros, um autocarro fazia o seu trajecto normal até ao seu destino. Pessoas entravam e saíam, cansadas de mais um dia de trabalho e embrulhadas nos seus pensamentos e problemas. Ouviam-se as vozes cruzadas em conversas paralelas ou simplesmente destinas à pessoa do lado de lá do telemóvel... ouvia-se o barulho do trânsito e até o barulho ensurdessedor do silêncio de algumas pessoas que seguiam com a cabeça encostada ao vidro da camioneta, olhando simplesmente para o vazio.
Nesse momento, enquanto o autocarro percorria uma longa recta, alguém se levanta. Um Homem, de aparente espírito limpo, barba escura e pele branca vai na direcção do motorista.

Chegado lá, tira uma pistola do seu bolso e diz:
- A partir de agora faz o que eu mandar!
O motorista, perplexo com a situação, responde com voz trémula:
- Oh homem, tenha calma... o que é que você quer?
O Homem, mantendo a calma e a educação diz:
- Vai sair do percurso normal deste autocarro. No próximo cruzamento, vira à esquerda. Obedeça por favor, pois não lhe quero fazer mal...

O pânico instala-se!
Temendo pela sua segurança e dos passageiros e sem saber o que se estava a passar, o motorista fez o que o sujeito ordenou.
Mulheres que viajavam com seus filhos estavam pálidas, sem voz... apenas os abraçavam enquando lhes diziam que tudo ia ficar bem.

Perante esta situação, o Homem volta a dar mais indicações:
- Vai seguir este caminho até lá ao fundo, depois vira novamente à esquerda e depois à direita - enquanto terminava de falar com o motorista, ia-se encostando a um dos bancos enquanto se colocava de frente para as pessoas, prosseguindo - Hoje o dia não me correu muito bem... e com vocês? Está tudo bem?

Ditas estas palavras, nem o barulho do motor se ouvia... toda a gente ficou em silêncio, sem conseguir sequer processar um pensamento. Ninguém lhe respondeu...

- Que se passa com voces? Ninguem fala? O sentido humano das pessoas está cada vez mais corrumpido, não percebo... - desabafava o Homem.
- É para onde agora? - pergunta o incrédulo motorista.
O Homem respondeu:
- No fundo desta rua, junto aquela casa branca, páre. Eu fico ali...
Olhando novamente nos olhos dos passageiros o Homem continua:
- Vimos neste autocarro cerca de 40 pessoas, cada uma para seu lado ou simplesmente falando de coisa nenhuma. Isto preocupa-me! As pessoas estão a perder o sentido da vida... ninguém aqui se lembra que está vivo, que tudo isto é uma dádiva. Façam-me um favor, troquem essas tristes feições por olhares inspirados e sorrisos verdadeiros. Cantem, sorriam e abraçem. Esse é o verdadeiro sentido da vida...
Olhem o que uma simples pistola vos fez... já repararam? Agora pensem... estamos a deixar os dias e anos passarem sem sabermos o que realmente importa e a qualquer momento podemos deparar-nos com o fim. Basta chegar um Homem maluco com uma pistola no bolso que tudo pode ter o seu termo... e digam-me, o que fizeram até agora??

Entretanto, o autocarro chega ao seu destino, o motorista pára e sem saber muito bem o que fazer, abre a porta principal. Tendo-se apercebido da chegada ao ponto indicado, o Homem pára de falar, junta todas as suas coisas, guarda a arma e antes de sair, despede-se das pessoas, uma por uma, dizendo:
- Peço desculpa por este incómodo, nunca foi minha intenção assustar-vos. Um resto de bom dia para todos e aproveitem as pessoas que têm à vossa espera quando chegarem a casa. Não há nada mais importante do que isso...

Dito isto, o Homem sorri... sorri para todos, num gesto simples, livre e com efeito calmante. Sorri, sai do autocarro, coloca a sua mochila às costas e desaparece... no virar de uma esquina.

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Apontamentos

Do ser ao parecer
Da forma à reforma
Do estar ao ficar
Da falha à medalha
Do gostar ao amar
Da semente ao expoente
Do querer ao fazer
Da palma à alma
Do desejo ao gracejo
Da terra à guerra
Do ir ao partir
Da miséria à matéria
Do ganhar ao conquistar
Da relação à emoção
Do dever ao crescer


De tudo isto e mais uma imensidade...
Não vai uma grande distância...
mas uma forte personalidade.

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Pau!

A estabilidade mental atinge o seu ponto de excelência. A criatividade e inteligência estão no auge. O cérebro fala, os olhos riem e o espírito descansa... Enquanto as nossas vias respiratórias saboreiam o destrutivo poder do apaixonante, jogamos para o ar sentimentos que nem o vazio absorve. Não que não queira absorver, mas simplesmente não consegue. Não está ao alcance de qualquer um.
O mínimo detalhe assume a máxima importância para que a compreensão verbal e mental de cada um seja entendida de forma perfeita. A magnificência das palavras atinge por vezes níveis irreais. A conjução verbal é feita de forma inteligentemente aleatória... genial, diria eu!
Tudo é entendido pelos de dentro e visto com desconfiança pelos demais. Este ceio é incompreendido e passando despercebido, nunca é esquecido por aqueles que já tiveram a felicidade de contracenar com estas personagens da vida real.
Simples seres, complexas mentes, surrealistas pensamentos. É assim, desta forma, que me apresento a mim e aos meus. É assim, sem forma, que pretendo continuar a viver... para mais tarde poder começar a pensar.

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Auto

Sorri quando todos estiverem a chorar, pois a alegria é contagiante. (O Recicla)

domingo, 17 de outubro de 2010

Floresta

Escuro.
Vento, folhas, sem muro.
Andante, viajante,
não simples caminhante.

Árvores, bichos, espíritos.
Gritos.
Prisioneiros de alguém,
ele é deles refém.

Medo.
Procura, mata
e descarta...
sem segredo.

Ponte, água da verdade.
Cheiro de serpente.
Ansiedade.
Sozinho, alma doente.

No cimo, no meio,
dentro do alheio.
Relva, som abalador
Dor.

Deita-se no leito,
deste ar rarefeito
Frio vento norte...
Morte.

sábado, 2 de outubro de 2010

Homem de Plástico

Sou liso e transparente. Não gosto de pontas afiadas, aprecio água e quero ser eternamente leve. Quero brilhar ao pôr-do-sol e descansar bem embrulhado. No fundo busco a serenidade, densidade e maleabilidade ideal para conseguir resistir às mudanças bruscas do estado físico. Não deixo ninguém respirar. Sou dependente de terceiros e gosto! Dói, mas só assim consigo atingir a plenitude das minhas capacidades interiores. É complicado viver desta maneira, mas é apaixonante sobrevirer assim.
Repudio o quente... destrói-me. Deixa-me marcas visíveis dolorosas, que nada são comparativamente às invisíveis. Prefiro aquecer-me num olhar, para poder também aquecer e imortalizar algo que nenhuma distância conseguirá destruir.
Gosto agora, aqui e seja onde for. Gosto perto, longe ou mesmo no impossível de alcançar. Consciente, inconscientemente, racional ou loucamente... isso são pormenores. Gosto! Ao som de uma qualquer balada, que deixará de se ouvir assim que tudo passar... o nosso bater de coração irá calar tudo e todos. Basta que chegue o dia de te voltar a ouvir respirar ao meu ouvido.
Sou elemento inanimado que ganha vida com a vontade de viver. Sou plástico, não me orgulho disso, mas ninguém sente mais do que eu. Vou-me enroscar e proteger alguém, quem não sei, quando muito menos, mas vai ser para sempre. Não sei porque sou assim... é biological...